Filha de Francisco

Naquela tarde fria de sexta-feira com duas blusas, touca na cabeça e cachecol Suzana ia apressada para á missa na igreja Nossa Senhora das Graças.

A moça não estava indo lá porque era devota ou coisa assim, ia por causa de um carinha que ela era afim e que pertencia a uma seita, ele sempre pedia que ela pegasse a hóstia na missa para que ele e seu grupo pudessem fazer suas cerimônias na sexta á noite no cemitério. O rapaz e seu grupo andavam o tempo todo de preto e com botas tipo coturno, eram estranhos, mas só assim ela podia agradar o moço e alem do mais não acreditava mesmo que estava fazendo nada de errado.

Nesta tarde ela estava se sentindo um pouco mal, tinha a sensação de que algo não ia dar certo, mas quando a missa findou já estava escurecendo, ela saiu com a hóstia teve a certeza do dever quase cumprido, ainda faltava levar para o rapaz. A sensação estranha não acabara ela aumentava a cada minuto e Suzana olhou para a hóstia imaginando que toda aquela sensação era causada por ela, quando passou por uma rua mal iluminada num impulso jogou a hóstia contra o muro e correu pra casa.

Pesadelos atormentaram a jovem moça durante toda a noite e pela manhã quando acordou ela saiu rápido da cama, calçou seu chinelo, colocou a touca e foi até o muro da noite anterior.

Chegando ao local ela ficou assustada com o que viu, tinha sangue por todos os lados, no muro e na calçada. Ao lado da poça de sangue uma mulher alta, de face angelical, cabelos pretos lindos com uma voz mansa e triste falou:

- Moça, alguém sofreu muito aqui nesta noite.

Suzana ajoelhou-se e chorou com a cabeça no chão por um prolongado tempo e quando levantou nada mais havia ali nem mesmo a mulher.

Nos dias atuais Suzana chama-se irmã Imaculada, faz parte dos Franciscanos da Toca de Assis, cuida daqueles que sofrem e faz o máximo possível para não fazer sofrer Aquele que um dia ela sofeu.